Diante de denúncias de líderes europeus, os ditadores do mundo poderão ser tentados a parafrasear Stalin: “A União Europeia! Quantas divisões ela tem?” De fato, a UE não tem exército, e é perturbada por divisões do tipo político. Sua diplomacia tem consistido principalmente em dinheiro e palavras. Para a Grã-Bretanha e a França, a campanha na Líbia foi suficiente por algum tempo. A UE está perdendo o interesse até pelas missões de paz que antes amava.
Então ela recorre a sua nova ferramenta preferida, as sanções. Dificilmente uma reunião de ministros das Relações Exteriores se passa sem medidas punitivas contra um regime brutal: proibição de importações e investimentos, restrição a negócios financeiros, listas com centenas de pessoas impedidas de entrar na UE e com seus ativos congelados. “Tornarmo-nos uma máquina de sanções”, zomba um ministro.
Em janeiro a UE impôs uma quinta rodada de sanções ao Irã. Esta incluía a proibição às importações de petróleo e o congelamento dos ativos do banco central iraniano. Este mês ela apertou os parafusos contra a Síria novamente. Aqui também a UE agiu contra o banco central, e sete ministros sírios foram colocados na lista. Na Belorus, 21 novas pessoas foram igualmente “designadas”, na maioria policiais e juízes envolvidos na supressão dos direitos civis. Na discussão que se seguiu, a Belorus exigiu a retirada dos embaixadores polonês e americano em Minsk e membros da UE chamaram seus enviados para consultas. Desde 2010 a UE impôs sanções contra Mianmar, Zimbábue, Costa do Marfim, Egito, Tunísia e Líbia (algumas foram relaxadas desde então, conforme os regimes caem ou mudam de comportamento).
Esse fogo de metralhadora de sanções se deve em parte às circunstâncias. A repressão às rebeliões em todo o mundo árabe exigiu uma reação urgente. A UE hoje tem um braço diplomático permanente, o Serviço Europeu de Ação Externa (EEAS na sigla em inglês), que é bom em sanções. Garantir um acordo para elas entre 27 membros é uma conquista. Até os americanos, geralmente sem esperança, estão impressionados.
Ainda assim, as sanções são incertas. Doze anos de medidas duras contra o Iraque não desalojaram Saddam Hussein (foi necessária uma invasão).
No Irã, a escalada das sanções não dissuadiu o regime de suas ambições nucleares, embora possam forçá-lo a mais negociações com a chefe diplomática da UE, Catherine Ashton. Dito isso, as sanções também se destinaram a convencer Israel de que não precisava bombardear o Irã ainda.
Na Síria as sanções parecem até agora pouco servir para impedir Bashar Assad de sangrar seu país. A reação internacional é bloqueada pela Rússia e a China, que vetaram uma resolução da ONU, temendo que convidaria a uma intervenção no estilo Líbia. A cúpula da UE esta semana discutiu como forçar uma separação entre Moscou e Pequim. Mas mesmo que a ONU pudesse agir a Grã-Bretanha e a França talvez não estivessem inclinadas à ação militar. A Síria é um inimigo mais forte que a Líbia, e as consequências da intervenção são menos previsíveis.
A política de sanções poderá em breve alcançar seus limites em termos de pessoas e transações proibidas e dos interesses entre os países europeus. A Eslovênia vetou colocar um oligarca da Belorus na lista de sanções, aparentemente para proteger uma firma com um contrato suculento para construir um complexo de residências e escritórios em Minsk, que inclui um novo hotel Kempinski. Para impor sanções de petróleo ao Irã foi necessária uma promessa de ajudar a Grécia paralisada pelas dívidas a encontrar uma fonte de petróleo alternativo (e finanças brandas). Os gregos bloquearam medidas para proibir importações de fosfatos da Síria.
Isso levanta uma questão maior. A prioridade máxima da Europa é a crise do euro, que irrompeu justamente quando a UE ratificou o Tratado de Lisboa e criou o EEAS. Ao fundir diversas funções em uma, havia a esperança de que a Europa fosse finalmente capaz de fazer sua voz ser ouvida no mundo. Mas o papel foi mal desenhado desde o início, prejudicado pela burocracia inflexível e o ciúme de 27 ministros das Relações Exteriores. A mediocridade de Lady Ashton não ajudou.
O problema é ainda mais profundo. A reivindicação de importância da UE é de que, como maior mercado do mundo, ela importa. Como exemplo de integração pacífica, ela é um “poder normativo” capaz de definir um exemplo magnético de cooperação. Mas que tipo de poder normativo a UE pode exercer se seu maior projeto, o euro, é considerado em risco de colapso?
Doze estrelas definitivas
A influência global é difícil de medir. Nem mesmo a poderosa América pode reivindicar ter resolvido o conflito árabe-israelense, a crise nuclear iraniana ou o futuro do Afeganistão. Mas todo mundo sente o declínio da Europa. Antes ela se preocupava que não desempenhasse um papel insuficiente para solucionar as mazelas do mundo; hoje ela própria é um grande problema.
O mundo está mudando depressa, mas o velho continente tem dificuldades para reagir. Veja a primavera árabe. A UE traçou uma estratégia sólida enfatizando os “três Ms” de moeda, mercados e mobilidade (não chame de migração). Mas existe pouco dinheiro para continuar na roda; os europeus do sul não querem se abrir para os produtos do norte da África; ninguém quer perder os controles de fronteiras. A leste, a UE pensou muito em como lidar com a Rússia de Putin? Não. Alguém fala sobre preencher a lacuna militar enquanto os EUA reduzem suas forças na Europa? Não. A austeridade está espremendo os orçamentos de defesa.
Nem tudo está perdido. A Europa ainda é rica e tem instrumentos de renascimento nas mãos. Sua própria ampliação ainda oferece o melhor meio de exercer influência. A esperança de aderir levou a Sérvia a encontrar e extraditar os mais sérios acusados de crimes de guerra das guerras dos Bálcãs e a começar a buscar uma acomodação com Kosovo. A Sérvia merece seu status de candidata. Se as negociações de acesso com a Turquia puderem ser revividas, a UE poderia encontrar um novo meio de influenciar seu vizinho ao sul. Por outro lado, apenas pensar em novas sanções todo mês não representa uma estratégia.
De Carta Capital
Meu adeus ao blog “De Beirute a Nova York”
-
Após dez anos, decidi encerrar meu blog no Estadão. Foi uma honra ter
escrito neste espaço por quase uma década. Comecei durante o período quando
eu era co...
Há 6 anos
0 comentários:
Postar um comentário