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O Hamas é inimigo da Al Qaeda. Indiretamente, a organização palestina contribuiu para que a rede terrorista não conseguisse realizar um ataque terrorista em Israel até hoje. Na Faixa de Gaza, os extremistas islâmicos inspirados por Osama bin Laden são perseguidos pelo grupo, que é o poder de fato no território.
Na semana passada, um grupelho denominado Tawhid e Jihad matou um ativista italiano pró-palestinos depois que o Hamas não concordou em libertar um de seus líderes. Conforme vem ocorrendo desde quando o grupo palestino assumiu o poder em Gaza, extremistas islâmicos têm sido presos e perseguidos. Algumas destas organizações inspiradas pela Al Qaeda são as responsáveis pelos disparos contra os israelenses. Na maior parte das vezes, como sabotagem justamente para levar Israel a reagir contra o Hamas.
Estas novas facções terroristas são ainda mais perigosas do que o Hamas. O grupo palestino, que já realizou centenas de atentados terroristas e ainda mantém uma campanha de lançamento de foguetes contra o sul do território israelense, tende a ser mais pragmático e realista. Apesar de oficialmente ainda não ter abdicado de destruir Israel, seus líderes já indicaram que aceitariam um Estado palestino nas fronteiras pré-1967.
O Hamas também possui canais de diálogo com os israelenses, com o Fatah e também com a comunidade internacional. Suas lideranças já se reuniram com autoridades internacionais. Caso abdique do terrorismo e aceite os acordos assinados pela Autoridade Palestina, o Hamas seria reintegrado às negociações de paz.
Organizações como esta Tawhid e Jihad são desconhecidas. Muitos de seus membros sequer são palestinos. Ninguém sabe bem quem lidera o grupo. Eles tampouco possuem um ideal claro. Basicamente, integram a Al Qaeda.
No mundo de hoje, há duas vias para o uso da violência entre radicais islâmicos. E por radicais não digo as pessoas religiosas, mas as que usam a violência para defender uma visão deturpada do islamismo.
A primeira delas é capitaneada pelo Irã. Verdade, os iranianos não cometem ataques contra países vizinhos. Mas patrocinam insurgências no Líbano, Gaza, Yemen, Iraque e Bahrein. O símbolo mais forte deste apoio iraniano é o Hezbollah, em Beirute. Esta organização xiita libanesa se transformou na mais poderosa guerrilha do mundo hoje, capaz de travar uma guerra contra Israel.
Além do Hezbollah, a ala iraniana também conta com o Hamas, que ironicamente não é xiita, mas sunita. No Iraque, o Exército Mahdi, do Moktada al Sadr, aos poucos se transforma em um novo Hezbollah. Seu líder está em treinamento religioso e militar no Irã. O apoio aos xiitas de Bahrein e aos houthis, do Yemen, se dá através de logística e ainda não se compara ao existente entre iraquianos, libaneses e palestinos.
A outra via de uso da violência é a da Al Qaeda. Não há um país por trás. Tampouco uma organização clara. Seus líderes mais inspiram do que lideram. Seus membros são de todas as nacionalidades. Seus ideais complicados. E a violência não segue uma lógica racional. Não possuem uma estratégia clara. Atuam ao redor de quase todo o planeta, mas se concentram no Paquistão, Afeganistão, Yemen, Iraque e, agora, na Líbia.
Os libaneses, com a ajuda do Hezbollah, exterminaram o Fatah al Islam em um campo de refugiados palestino próximo a Trípoli. O Hamas tentará fazer o mesmo com o Tawhid e Jihad.
Esta é a guerra que ninguém vê, e que servirá de pano de fundo nos levantes na Síria e Yemen. A guerra civil do Iraque, por muitos anos, foi travada justamente entre a via iraniana e a via Al Qaeda. Os americanos optaram, neste caso, por ficar mais próximos da ala de Teerã.
Leiam os blogs do Ariel Palacios (Argentina), Adriana Carranca (Afeganistão), Claudia Trevisan (China), Denise Chrispim (Washington) e o Radar Global
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O jornalista Gustavo Chacra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia, é correspondente de “O Estado de S. Paulo” em Nova York. Já fez reportagens do Líbano, Israel, Síria, Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Egito, Turquia, Omã, Emirados Árabes, Yemen e Chipre quando era correspondente do jornal no Oriente Médio. Participou da cobertura da Guerra de Gaza, Crise em Honduras, Crise Econômica nos EUA e na Argentina, Guerra no Líbano, Terremoto no Haiti e crescimento da Al Qaeda no Yemen. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires. Este blog foi vencedor do Prêmio Estado de Jornalismo em 2009, empatado com o blogueiro Ariel Palacios
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